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diciembre 11, 2016

‘Trata-se de um caso típico de crime global’: José Ugaz

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O presidente da Transparência Internacional, José Carlos Ugaz - André Coelho / Agência O Globo / 28-6-2016

SÃO PAULO — Presidente da Transparência Internacional, peruano José Ugaz acompanha desdobramentos da Lava-Jato nos países da América Latina.

Qual o impacto da Lava-Jato nas Américas do Sul e Central?
Tremendo. Primeiro, porque muita gente nos países suspeitava que as empresas brasileiras poderiam estar envolvidas em práticas corruptas e, no entanto, ninguém dizia nada. Nós detectamos essas empresas como realizadoras de obras de infraestrutura importantes em pelo menos sete países da região, e em locais como Panamá e Peru investigações significativas já estão em andamento após a deflagração da Lava-Jato no Brasil.

Uma delação da Odebrecht pode ajudar a esclarecer a corrupção nesses países?
Com certeza sim. Qualquer informação que altos dirigentes das empresas entregarem vai ter um impacto muito importante nas investigações locais realizadas pelos países. Como organização internacional, esse é um grande interesse nosso. Estamos tentando estabelecer um nível de comunicação entre todas as investigações, há a possibilidade de abrimos uma investigação internacional, sobre a qual falamos com Moro (o juiz Sérgio Moro) e Deltan (o procurador Deltan Dellagnol). Trata-se de um caso típico de crime global, que envolve um conjunto de juridições e que, à medida em que vai produzindo informação no Brasil, com esses bastidores privilegiados dos principais atores envolvidos no esquema, certamente terá tremendo impacto nos outros países.

Como se dá a cooperação entre os países?
Nós iniciamos um processo em cada um dos países envolvidos em que a Transparência Internacional tem atuação. Solicitamos informação sobre os contratos assinados com as empresas do Brasil. O nível de respostas foi bem diferente. Chile e Peru deram bastante informação. Em outros países, como Venezuela, ela foi zero. A ideia era que nós, como representantes da sociedade civil, avaliemos essa informação e reportemos sobre elas. Depois pensamos em aplicar um artigo da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que permite realizar investigações conjuntas. As autoridades do Brasil começariam a ter reuniões e a estabelecer uma comunicação com as de outros países. A estratégia final seria ter um panorama grande e não coisas bilaterais que não permitem ver todo o espectro. Estamos ainda pensando nessa possibilidade, mencionamos isso ao Moro.

Há um limite para a Lava-Jato? A operação terá um fim?
Tem que ter um fim. Os riscos de uma coisa interminável é que o povo se esqueça ou perca o interesse no caso, deixando de apoiá-lo. Do outro lado, há agressões da classe política, dos envolvidos, das empresas . A população precisa sempre ser informada sobre do que se trata a corrupção.

Por que somos tão corruptos, e quem paga o preço por isso?
O nosso mapa de corrupção mostra que 2/3 da humanidade padecem de níveis de corrupção, mas a América Latina está sempre acima da média, numa situação bastante negativa. São muitos fatores. O financiamento da política é um deles, há motivos históricos: o padrão colonial que se impôs, que nunca prestigiou a meritocracia para cargos de poder, e sim quem os comprava. O clientelismo que se estabeleceu nas colônias se mantém até os dias de hoje. E também tem muito a ver a forma como se organizou a administração, não fomos criados para prestigiar carreiras públicas como acontece em outros países. E por isso a institucionalidade de nossos países é muito precária, a corrupção está na origem de quase todas as nossas nações, com poderes judiciais débeis, ineficientes, etc. Há os baixos níveis de educação, que não permitem à população distinguir o que é débil do que não é. Países sem tradição democrática, muitos sujeitos a golpes de Estado. Enfim, a corrupção é complexa e multicausal. É um imposto que quem paga são os mais pobres. Uma estratégia que nós, como organização, estamos tentando adotar a nível internacional é a do quanto a corrupção afeta os direitos humanos.


Más Información:

O Globo BR:
http://oglobo.globo.com/brasil/lava-jato-ja-suspendeu-16-projetos-em-seis-paises-20617028#ixzz4TFsy1xjM

El Univversal MX:
http://www.eluniversal.com.mx/articulo/mundo/2016/12/11/un-caso-tipico-de-crimen-global